sexta-feira, 7 de junho de 2013

Ensaiada em doentes de EM uma nova estratégia para melhorar a doença

No artigo publicado no dia 5 de Junho na revista Science Translational Medicine os autores, das Universidades de Hamburgo e Zurique, descrevem a primeira experiência em doentes de uma nova estratégia para melhorar a esclerose múltipla (EM).
A EM é uma doença em que o sistema imunitário "ataca" a mielina, reconhecendo-a como um alvo e não como uma substância do próprio organismo (que o sistema imunitário habitualmente não ataca). A mielina é constituída por um conjunto de proteínas associadas a açúcares e lípidos (e por isso chamadas glicoproteínas e lipoproteínas) que reveste os axónios (os "cabos" de ligação entre os neurónios), funcionando como isolamento e facilitando a condução eléctrica dentro do sistema nervoso.
Na experiência agora descrita, os investigadores colheram sangue de 9 pacientes com EM (7 com forma por surtos e 2 com forma secundariamente progressiva) e modificaram-nas no laboratório, "colando-lhes" na parte exterior pequeninos fragmentos de três das principais proteínas da mielina. Finalmente voltaram a injectar as células assim modificadas nos doentes, que foram escolhidos por não estarem a fazer nenhum tratamento para a EM e por terem no sangue células que eram capazes de reconhecer pelo menos um dos fragmentos.
Trata-se de um estudo muito inicial, com um número muito pequeno de doentes, cujo objectivo era verificar se esta estratégia tinha algum problema grave de segurança e o que acontecia ao sistema imunitário dos doentes depois do tratamento. O que os autores verificaram foi que esta manipulação não causava nenhum efeito secundário grave no muito curto prazo (o estudo durou muito pouco tempo) e que diminuía a reacção do sistema imunitário dos doentes (em particular dos linfócitos T) às proteínas da mielina. Se considerarmos que na EM é esta reacção dos linfócitos T às proteínas da mielina que desencadeia todo o processo de destruição da mesma (e isto é, pelo menos em parte, verdade) então este tratamento poderá vir a contribuir para diminuir ou mesmo parar o ataque à mielina e então controlar a doença.
Embora promissores, estes resultados devem ser interpretados com cautela, uma vez que se trata de um ensaio muito inicial, com um grupo muito pequeno de doentes muito escolhidos, e, sobretudo, que embora lógico, o efeito da diminuição da reactividade das células T no curso da doença não foi ainda demonstrado e pode mesmo não se verificar.
Um notícia sobre este artigo pode ser encontrada em Português no site do jornal Público. O resumo do artigo, em inglês, pode ser encontrado no site da revista.

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